PSICOLOGIA DA GESTALT
Por Walter Guimarães (Psicólogo Clínico)
No final do século XIX, a psicologia
, ainda buscava alicerce no
paradigma Cartesiano. Os cientistas tentavam estabelecer
relações de causa e efeito entre estímulos e respostas, o objetivo
a ser alcançado pela ciência era a mensurabilidade.
A psicologia buscava notoriedade como ciência e o caminho para
isto, era se igualar às ciências exatas.
O objetivo de ser encarada como ciência, foi
aos poucos sendo alcançado pela psicologia, Muitos pesquisadores
e cientistas contribuíram para isso, entre eles Watson,
Pavlov, Skinner com o Behaviorismo e Terman, Goddard, Yerkes
com os testes psicológicos. Os estudiosos da época estavam interessados
em medir reações, pois estes eram dados
confiáveis e válidos já que o conteúdo da "
consciência " era composto por variáveis
impossíveis de se controlar.
Neste mesmo período, Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Kofka, baseados em estudos psicofísicos que relacionavam a forma e sua percepção, desenvolveram a Psicologia da Gestalt.
Os fundadores da Psicologia da Gestalt estavam interessados em compreender quais eram os processos psicológicos que estavam envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico era percebido por um indivíduo como uma forma diferente da que ele tinha na realidade.
Um dos pontos centrais da teoria da Gestalt é a percepção. Os Gestaltistas questionaram o princípio de causalidade implicíto na teoria Behaviorista e afirmaram que entre o estímulo ambiental e a resposta do indivíduo há o processo de percepção. É primordial saber que o modo pelo qual o indivíduo percebe e o que ele percebe são dados importantes para compreender seu comportamento.
Neste momento entra o conceito de todo e das partes, já que o próprio nome Gestalt, pode ser traduzido como todo ou configuração. Para os Gestaltistas as experiências são percebidas primeiro como um todo e só depois suas partes são percebidas. É importante notar que as partes estão ligadas de uma maneira estruturada a fim de formar o todo e é essa estrutura que interessa aos Gestaltistas, eles procuram descobrir como está estruturada uma fobia, por exemplo, e conseguem isto observando e analisando o cliente como um todo integrado através da manifestação de suas partes.
Outro conceito, intimamente ligado ao de todo e das partes é o conceito de figura e fundo ou, formação duo ( uma figura " sobre " ou " dentro " de outra ). Segundo este conceito, qualquer problema humano deve ser compreendido à partir de um todo, pois ele é apenas uma parte, subjaz ou se sobrepõe a algo mais amplo, mais complexo.
A figura não é uma parte isolada do fundo, é este fundo que lhe atribue significado. É importante notar como o cliente estrutura sua percepção para ver algo como figura e não como fundo e vice-versa, procurar nos vazios ( o que não está em nosso campo de percepção como figura ) a verdadeira solução para o problema do cliente.
Na Gestalt-Terapia o momento presente é o que interessa, é no aqui e agora que a dificuldade do cliente deverá ser trabalhada. Apesar desse conceito ser frequentemente atribuído à influências orientais, na verdade está intimamente ligado ao conceito de isomorfismo, apresentado pela psicologia da gestalt.
Os Gestaltistas atribuem pouca importância aos fatos passados, pois a influência destes no presente é pequena. Estar no aqui e agora significa que o momento presente contém e explica minha relação com a realidade como um todo, isto é, o que eu vejo, o que eu percebo agora pode ser explicado a partir do momento presente, sem a necessidade de recorrer à experiências passadas de percepção. O indivíduo convive com o aqui e agora e com o passado, através de uma relação de figura e fundo, de todo e partes.
A psicologia da Gestalt conceitua os comportamentos voluntários como molares e os comportamentos involuntários como moleculares.
Ambos os comportamentos ocorrem em um determinado campo, em um determinado ambiente, em um determinado tempo, e o modo pelo qual a pessoa entra em contato com este campo irá influenciar diretamente na produção e aparecimento desses comportamentos.
Existem dois meios onde esses comportamentos se manifestam: O meio geográfico e o meio comportamental. O primeiro é o meio real, o ambiente onde ocorrem os comportamentos, no entanto, o meio comportamental é que determinará o comportamento molecular. O meio comportamental é o local ou a situação na qual pensamos que estamos, sendo assim, não é o meio geográfico, mas o modo como se reage a ele é que explica o comportamento humano.
Todos estes conceitos estão profundamente ligados, este é o espírito da teoria e da Gestalt-Terapia, uma análise do ser humano, na qual este é visto de forma completa, interdependente e envolvido em um sistema maior, levando em consideração suas potencialidades naturais que por algum motivo estão adormecidas, sendo função da psicoterapia, reestruturar o campo perceptivo da pessoa que procura ajuda e ajudá-lo, dessa forma, a encontrar um equilíbrio, que é conseguido através da capacidade de uma auto-regulação e de um auto-apoio.
HUMANISMO E GESTALT-TERAPIA
A Gestalt-Terapia, tal como o Humanismo, envolve uma visão de mundo na qual o homem é o centro, possui um valor positivo e é capaz de autogerir-se e regular-se. Segundo Heidegger " só o homem existe, as coisas são ". Sem o homem as revoluções, guerras, avanços tecnológicos não têem sentido, este sentido se perde quando o homem pessoa como pessoa desaparece para que as coisas ou eventos sejam ou quando o homem deixa ou é impedido de existir. O pensamento Humanista leva am conta os limites pessoais, os fracassos, as impossibilidades de mudança aqui e agora e tenta fazer uma reflexão do positvo, do criativo, do que ainda é, em sua potencialidade, transformador e levando o ser humano a se desdobrar até a plenitude de sua essência, a plenitude no agir, no pensar, no expressar-se atravás da linguagem.
A Gestalt-Terapia almeja bem mais do que uma reflexão humanística, ela se realiza através de uma postura filosófica, existencial, tentando ser uma resposta a um modo específico de estar no mundo e nele agir.
EXISTENCIALISMO E GESTALT-TERAPIA
O Existencialismo é a expressão de uma experiência individual, singular. Trata diretamente da existência humana. A Gestalt-Terapia assim como o Existencialismo vêem o homem como um ser particular, concreto, com vontade e liberdades pessoais, consciente e responsável e a relação existente entre o ato humano e a intenção é levado em conta, ou seja, todo ato psíquico é intenção e deve ser entendido, compreendido a partir de si próprio. O homem só pode ser compreendido por ele mesmo, através de uma experiência direta de seu ser no mundo.
A Gestalt-Terapia, por fundamentar-se numa visão específica de existência, faz um apelo à liberdade, à individualidade pessoal e coerente. O Gestaltista é, assim como o Existencialista, uma pessoa que se nega a submergir inconscientemente no mundo que o cerca, é uma figura incomodada e que incomoda e, antes de tudo é um ser responsável por si mesmo, sem ser isolado ou egoísta.
FENOMENOLOGIA E GESTALT-TERAPIA
Para os Gestaltistas não se pode separar o fenômeno do ser. É o ser do fenômeno que interessa à Fenomenologia, o ser que se dá no fenômeno. Não se pode compreender o fenômeno a partir da existência, mas só compreendendo a própria existência.
A Fenomenologia tende a ir à essência mesma das coisas. O significado que se atribui às coisas não representa a realidade, o desenvolvimento da essência dessa coisa, por isso é importante perceber esse movimento do homem no mesmo momento em que ele, compreender as coisas, lhes empresta um significado, que parte de sua própria reflexão, vontade e consciência.
Para a Gestalt-Terapia a interpretaç
;ão do fenômeno na sua natureza é diver-so,
já que existe em todo fenômeno um sentido rel
acional entre a coisa em si e a sua percepção por parte de outro.
A CONCEPÇÃO SISTÊMICA
Partindo das descobertas no campo da física nas primeiras décadas e necessidade de um novo paradigma, outras teorias foram desenvolvidas para ajudar a compreender os fenômenos naturais.
Depois de três séculos de pensamento reducionista, determinista e da consequente desequilíbrio cultural e social, surgiram os primeiros os primeiros sinais de um novo paradigma.
No início da década de 1920 o biólogo alemão Ludwing Von Bertalanfy criou a Teoria Geral dos Sistemas. Os estudiosos dessa teoria procuraram formular generalizações sobre " como as partes e os todos se relacionavam, independentemente das disciplinas nas quais eram observadas ". Outra teoria que estuda os sistemas auto-regulados é a Cibernética, disciplina criada por Norbert Wiener, a diferença desta para a TSG é que a Cibernética é um modelo mecanicista. Para Wiener os " princípios básicos que governam as máquinas de auto-regulação são encontrados também no comportamento humano ". Para Bertalanfy as pessoas são criativas, ativas e exercem controle sobre o seu ambiente ".
Na teoria geral dos sistemas a ênfase é dada à inter-relação e interdependência entre os componentes que formam um sistema que é visto como uma totalidade integrada, sendo impossível estudar seus elementos isoladamente. É disso que trata os conceitos de trasação e globalidade, o primeiro se refere à interação simultânea e interdependente entre os componentes de um sistema e o segundo diz que um sistema constitui um todo único, dessa forma, qualquer mudança em uma das partes afetará todo o conjunto.
Bertalanfy descreveu os organismos vivos como sistemas abertos, que matéria, energia ou informação com ambiente através de inputs contínuos recebidos do ambiente e outputs enviados para este. Em seguida foram identificadas algumas propriedades dos sistemas tais como:
Homeostase ou Equilíbrio: É o processo utilizado pelo sistema para não se desestruturar e manter seu equilíbrio.
Equifinalidade: Este conceito diz respeito a capacidade de, em um sistema aberto, diferentes condições iniciais produzirem resultados finais semelhantes ou diferentes resultados terem sido causados por condições iniciais semelhantes.
Hierarquia: Significa que sistemas complexos são formados por certo número de subsistemas e isto implica em uma ordem crescente de complexidade. Koestler criou o termo hólon para descrever estes sistemas de dupla face, onde de um lado o componente do sistema é subordinado e do outro é superior.
Perspectiva Teleológica: Este conceito diz que os eventos são determinados pelas metas a serem atingidas, dessa forma os sistemas são vistos como organismos orientados para certas áreas e para atingir estes fins eles utilizam o Feedback.
O conceito de Feedback é da Cibernética e refere-se a capacidade do sistema em regular seu comportamento para alcançar suas metas. O feedback pode ser negativo, quando trabalha para manter o equilíbrio do sistema quando este é ameaçado por inputs vindos do ambiente que tendem a desestruturá-lo , e positivo, quando o sistema responde ampliando o desvio vindo do exterior e dessa forma modificando a estrutura.
Causalidade Linear e Causalidade Circular: O conceito de linearidade vem do paradigma cartesiano, onde um evento A causa o evento B e assim sucessivamente. No conceito de circularidade, introduzido pela Cibernética, qualquer comportamento é visto como uma série de movimentos e contramovimentos, em uma repetição cíclica, então não se pode afirmar qem causa o quê.
Apesar do modelo vigente ainda ser o cartesiano, torna-se a cada dia mais claro e necessário revermos os velhos conceitos e atentarmos para as novas necessidades que surgiram por conta das limitações do antigo paradigma. Podemos perceber claramente que o modelo sistêmico se adapta melhor ao modelo de mundo que precisamos ter e é só uma questão de tempo para até ele se estabelecer, mas até que ponto precisaremos chegar para que esta mudança ocorra?